Oportunidades e Perspectivas dos Minerais Industriais


27.05.2022

7º. Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração

“Oportunidades e Perspectivas dos Minerais Industriais” foi o tema do painel 2 do último dia do 7º. Encontro Nacional da Média e Pequena Mineração. Reinaldo Noronha, da Bautek Minerais Industriais, abriu o painel comentando sobre a importância dos minerais industriais na economia e na nossa vida. Para ele, a mineração de minerais industriais é um pouco diferente, pois tem que ser combinada com tecnologia e processamento para agregação de valor de produtos para o mercado. 

“Vamos falar de três linhas de minerais industriais – aluminosos (bauxita e argila aluminosa), minerais para baterias (catodo e anodo) e minerais para fertilizantes (fonte de potássio, cálcio, potássio e manganês). No caso dos aluminosos, eles fazem parte da linha de trabalho da Bautek e da Terra Goyana Mineração e de um depósito de bauxita e argilo-minerais em Barro Alto. Este depósito foi concebido para fazermos processamento a seco de bauxita e nós enxergamos a mina de forma diferenciada. Nós utilizamos a bauxita e argila em uma gama de minerais”. Ainda falando da bauxita, ele explicou que a demanda é crescente no mundo (11 milhões de toneladas 2019/2029), mas o problema é que a China está deixando a posição de principal produtor e exportador, o que é um cenário crítico de desabastecimento. A China tem reduzido suas reservas nos últimos seis, sete anos, basicamente por causa do crescimento dos problemas ambientais em uma região próxima a Pequim, como aumento da emissão de particulados, além do aumento dos custos de produção. 

No caso dos minerais para baterias, houve a venda de sete milhões de veículos elétricos até 2021 e, até 2030, 50% dos veículos comercializados no mundo serão elétricos ou híbridos. “Você tem baterias para carros elétricos e híbridos e elétricos, para celulares e para casas para estocagem de energia solar. “Quando falamos de anodo, é grafita, que pode ser sintética (mais cara) e que está sendo substituída pela natural, enquanto na parte catodo temos diversos minerais, como níquel, alumínio, cobalto, manganês e na parte eletrônica, há o lítio. “Metade dos veículos terão motores a bateria e metade das indústrias não têm capacidade para abastecer este mercado”. O aumento da demanda dos principais minerais e metais para abastecimento do mercado de baterias vão multiplicar por 25 vezes a oferta do cenário atual. Isso é uma preocupação grande para a indústria de mineração. 

A terceira linha sobre fertilizantes (agrominerais e remineralizadores) enfrenta atualmente um problema de abastecimento com o conflito entre Rússia e Ucrânia e coloca o Brasil em cheque, já que o País importa grande parte dos fertilizantes utilizados para suprir o agronegócio brasileiro. “A dependência do Brasil é enorme, pois o País depende das importações para o setor mineral e do agronegócio, que são os que mais movem a economia nacional. Sem o agro e sem mineração, o Brasil está quebrado”. 

Em relação aos fosfatados, o Brasil importa uma quantidade elevada de 3,4 milhões de toneladas e gastou US$ 1 bilhão com as importações, enquanto os potássicos são mais de 13 milhões de toneladas, com uma dependência acima de 90% e foram gastos mais de US$ 24 bilhões. Reinaldo Noronha provocou se o Brasil ainda precisa continuar com as importações. “O Brasil hoje importa um produto solúvel, o KCl, que tem absorção rápida pelo solo, mas tem pontos negativos, que quando você solubiliza o potássio pode-se gerar ácido clorídrico, prejudicando o solo. Nós precisamos de potássio solúvel nos minerais que o Brasil tem em abundância. A Edem Agronegócio tem uma mina em Goiás com mineral rico em potássio com solubilidade em água. 

Ele acrescentou que o Centro-Oeste é um celeiro para produção de grãos utilizando os corretivos de solo à base de cálcio e magnésio e este consumo tem crescido, saindo de 30 milhões para 54 milhões de toneladas. O magnésio é um elemento importante para o agro, mas foi esquecido nos últimos anos. “Temos estes três conjuntos de minerais para aplicações industriais que cabem uma análise, uma reflexão e trabalho intenso para uma mineração sustentável”. 

O segundo participante foi Emilio Lobato, da IBAR Nordeste, que apresentou a palestra “Magnésio de alto desempenho para o novo salto na produtividade agrícola”. Em 2016, o Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) analisou 52 variáveis que influenciam na cultura da soja, das quais cinco foram selecionadas por serem as mais importantes em afetar a produção do grão. 

A Indústrias Brasileiras de Artigos Refratários (IBAR) possui uma planta em Brumado (BA), com capacidade para 160 mil toneladas anuais de óxido de magnésio, outra em Jucás (CE), com 40 mil toneladas anuais de Magnesita e calcinação, além do escritório central em Poá (SP) e uma planta de refratários diversos em Suzano (SP), com produção de 250 mil toneladas por ano. “O óxido de magnésio produzido pela IBAR é um fertilizante solúvel, 100% natural, de alta pureza e obtido através do processo de calcinação controlada da magnesita em fornos rotativos. O produto comercial da calcinação controlada tem a marca comercial Agromag, com 90% de óxido de magnésio, solubilidade em ácido cítrico  e nós consideramos uma fonte para reposição de magnésio, livre de metais pesados e outros contaminantes”. 

Em relação ao uso em polos agrícola, Lobato disse que tem visto por todo o Brasil uma crescente carência no uso de magnésio, que quando empregado em pequena proporção na adubação, através do uso de calcários dolomíticos e calciticos, não consegue um equilíbrio entre as bases na solução do solo. Por outro lado, o uso de doses pesadas de potássio induz a deficiência de magnésio no solo, pois são minerais antagônicos. Outro ponto é o aumento da intensificação e produtividade das culturas e consequente elevação da exigência e exportação de magnésio. 

Concluindo sua apresentação, Lobato disse que o óxido de magnésio obtido por calcinação controlada é uma alternativa econômica e segura para reestabelecer, em curto prazo, o equilíbrio do magnésio no solo. Ele sugere ainda que a Instrução Normativa (IN 5/2016) seja revista urgentemente com a inclusão da condição qualitativa da presença ou ausência de asbestos, além de se estabelecer limites para cromo e níquel, como já acontece na Instrução Normativa SDA nº 27/2006, que trata dos fertilizantes NPK e condicionantes de solo, como critérios para concessão do registro de comercialização. 

Eduardo Cavalcanti, da Brasil Minérios, falou sobre o tratamento de rochas e bens minerais, que considera a porta de entrada para a atividade mineral do empreendedor, devido aos baixos aportes de investimentos nos projetos. “A Brasil Minérios conseguiu crescer de maneira significativa e isto constitui um incentivo para que se inicie a atividade nesta área de rochas e minerais industriais, pela diversidade de 42 substâncias (areia, calcário, rochas ornamentais, etc). O que falta no Brasil são empreendedores na área de minerais e rochas industriais”. 

Com mais de 90% da demanda nacional, a Brasil Minérios produz 70 mil toneladas de concentrado de vermiculita em sua planta para construção civil e agricultura. “A abundância de rochas minerais e industriais está constatada e o desenvolvimento depende de investidores. Somos um dos três maiores players mundiais, mas há que ter vontade, interesse, capacitação, reserva mineral de quantidade e qualidade e infraestrutura, pois existe demanda de mercado”. 

Eduardo contou que a Brasil Minérios tem uma planta em São Luís de Montes Belos, com cerca de 150 colaboradores. A empresa inicia a implantação de projeto de mineração em Catalão, onde existem 10 milhões de toneladas de vermiculita. “Pretendemos nos constituir em um líder industrial em 2035 com a mina de Catalão. O Centro-Oeste é um excelente espaço para se empreender em rochas minerais. Tenham coragem, pois há uma infinidade de bens minerais á disposição para o setor crescer não apenas em Goiás, mas em todo o Brasil. Se o produto for de qualidade, a empresa terá clientes”. 

Ana Claudia Queiroz Ladeira, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), uma das unidades de pesquisa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), tratou em sua participação dos projetos de PD&I em cadeia e da implantação de um laboratório de materiais avançados e minerais estratégicos, uma iniciativa do Governo Federal. 

Os projetos são de PD&I que contemplam todo o ciclo de produção e aplicação de determinado produto, com o objetivo de obter fundos e incentivos para o efetivo estabelecimento da cadeia produtiva. “É uma tendência solicitar recursos financeiros através de projetos em cadeia atualmente”. Estes projetos visam identificar e sanar desafios tecnológicos (gargalos técnicos) do ciclo de vida de tal produto que impede a autossuficiência do país frente a este produto, além de propor testes de soluções para desafios identificados. “No caso do projeto que estamos fazendo, executar o piloto de fabricação”. Além disso, os projetos mapeiam recursos e insumos para atender à demanda interna do produto e, por último, participar da implementação na produção. 

“Estes projetos surgem na união de diversas instituições de pesquisa com expertises variadas e de grupos P&D já estabelecidos”. Os projetos têm como vantagens os grupos de P&D já articulados com trânsito entre as empresas, composição diversa (Governo, empresas, universidades, sindicatos, Centros de Pesquisa, ONGs), o que potencializa as articulações e o entendimento de toda a cadeia. Segundo Ana, o Governo pode acompanhar estes projetos através de técnicos do MCTI, ME, MME, que são convidados pelo grupo para participar de discussões. “Os financiadores (Governo e empresas) veem esse movimento como algo mais consistente, com uma proposta mais abrangente e com possibilidade real de se obter financiamento”. 

O segundo ponto abordado foi a implantação de um laboratório tecnológico de materiais avançados minerais estratégicos (Granioter – Grafeno, Nióbio e Terras Raras). “ É um projeto do Governo, do MCTI, no âmbito da Política Nacional da Ciência, Tecnologia, e Inovação de Materiais Avançados e Minerais Estratégicos. Com sede no CDTN, o Granioter está localizado no campus Pampulha da UFMG, em Belo horizonte (MG). 

O Granioter tem como objetivo implementar um laboratório de competência  tecnológica em materiais avançados e minerais estratégicos, visando a geração de aplicações comerciais para empresas nacionais com base tecnológica , aberto à comunidade PD&I nacional e em sinergia com iniciativas e investimentos convergentes. “O Granioter vai funcionar como um hub tecnológico, conectado ao mercado (empresas de médio e grande porte), área de PD&I (startups, comunidade científica, spin-offs e instituições de Ciência e Tecnologia) e parceiros (produtores e fornecedores e financiadores público-privados)”.

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